O peso do combustível no custo do frete
O combustível representa entre 30% e 40% dos custos totais de um frete. Isso significa que, para cada viagem, quase metade do valor recebido pelas transportadoras é destinada apenas para abastecer os veículos. Em rotas de longa distância, como o trajeto entre São Paulo e Recife, o gasto com diesel pode superar todos os outros custos combinados, incluindo pedágios, manutenção e salários de motoristas. Essa proporção torna o setor extremamente vulnerável às oscilações no preço do combustível.
Além disso, o cálculo do frete é constantemente revisto em função das variações do diesel. Transportadoras que não conseguem repassar esses aumentos aos clientes enfrentam sérias dificuldades de manter a operação rentável. É comum que, em períodos de alta abrupta, contratos já fechados acabem gerando prejuízos, especialmente para empresas menores que não possuem margens de negociação.
Oscilações de preços e insegurança no setor
O valor do diesel no Brasil não depende apenas de fatores internos. Ele está sujeito à cotação internacional do barril de petróleo, à variação do dólar e às decisões de política de preços da Petrobras. Essa combinação de elementos externos e internos cria um cenário de instabilidade que prejudica o planejamento financeiro das transportadoras.
Enquanto grandes players conseguem adotar estratégias de proteção, como contratos de longo prazo e renegociações frequentes, muitas transportadoras de pequeno porte e caminhoneiros autônomos ficam expostos a essas variações. Essa incerteza reduz a previsibilidade de caixa e dificulta o crescimento sustentável, gerando um ambiente de constante apreensão no setor.
Repasse de custos aos embarcadores
Quando o preço do diesel sobe, as transportadoras não têm outra alternativa senão repassar parte desse custo para os embarcadores. Grandes empresas de e-commerce, como Amazon Brasil, Magazine Luiza e Mercado Livre, sentem de perto esse impacto, pois dependem diariamente de fretes para atender seus clientes em todo o território nacional.
Esse repasse, no entanto, nem sempre ocorre de maneira simples. Em muitos contratos, há resistência dos embarcadores em aceitar reajustes frequentes, o que gera negociações complexas e até conflitos comerciais. No fim, quando o repasse é inevitável, ele se reflete diretamente no preço final dos produtos, aumentando o custo de vida para o consumidor brasileiro.
Caminhoneiros autônomos e a luta pela sobrevivência
Para os motoristas autônomos, que muitas vezes vivem com margens muito apertadas, a alta no preço do diesel tem um efeito devastador. Como são pagos por viagem, cada aumento reduz significativamente sua rentabilidade. Em alguns casos, os valores recebidos mal cobrem o custo do combustível, tornando inviável a realização de determinadas rotas.
Esse cenário levou a mobilizações históricas, como a greve dos caminhoneiros em 2018, que paralisou o Brasil e evidenciou a importância do diesel para toda a cadeia logística. Até hoje, muitos autônomos relatam que abandonam fretes longos em períodos de alta, priorizando trajetos menores ou até interrompendo temporariamente a atividade.
A tabela de frete da ANTT como tentativa de equilíbrio
Com o objetivo de proteger os transportadores, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) implementou a tabela de frete mínimo, que utiliza o preço do diesel como referência para calcular valores justos. A medida, no entanto, divide opiniões. Para transportadores e caminhoneiros, ela garante uma base mínima de remuneração. Para embarcadores, por outro lado, é vista como um aumento artificial nos custos logísticos.
A discussão em torno da tabela mostra como o preço do combustível é um elemento sensível, capaz de impactar tanto a sustentabilidade das transportadoras quanto a competitividade de setores inteiros da economia. Mesmo com a existência da tabela, a fiscalização e a adesão ainda encontram dificuldades práticas, gerando insegurança jurídica.
Competitividade e inovação no uso de combustível
Transportadoras que conseguem adotar tecnologias de economia de combustível conquistam vantagem no mercado. Softwares de roteirização inteligente, caminhões mais modernos e treinamento de motoristas para direção econômica são algumas práticas que reduzem o consumo de diesel. Empresas que investem nessas estratégias conseguem manter fretes mais competitivos, mesmo em períodos de alta nos combustíveis.
Por outro lado, transportadoras que não acompanham essa modernização acabam ficando em desvantagem. Muitas perdem contratos por oferecer preços mais altos ou sofrem com margens cada vez menores, o que compromete sua sustentabilidade a longo prazo.
Impactos para o consumidor final
Nenhuma etapa da cadeia produtiva escapa do impacto do combustível. Quando o frete encarece, esse aumento é diluído nos preços de mercadorias transportadas — desde alimentos até eletrodomésticos. O consumidor final é quem, no fim das contas, arca com boa parte desse custo extra.
Esse efeito é sentido especialmente em momentos de inflação alta, quando os preços dos combustíveis disparam e os produtos básicos chegam mais caros às prateleiras. Ou seja, o preço do diesel vai além das transportadoras: ele afeta diretamente o bolso de milhões de brasileiros.
Alternativas logísticas frente à alta do diesel
Diante das constantes oscilações, embarcadores e transportadoras buscam alternativas. O transporte ferroviário e a cabotagem (transporte marítimo entre portos nacionais) são opções em crescimento, mas ainda restritas pela falta de infraestrutura e pela concentração geográfica. Assim, o modal rodoviário continua sendo a principal escolha, mesmo com os altos custos.
Algumas empresas têm experimentado também o uso de combustíveis alternativos, como biodiesel, gás natural veicular (GNV) e até mesmo caminhões elétricos em testes-piloto. Embora ainda incipientes no Brasil, essas soluções apontam para um futuro mais sustentável e menos dependente do diesel.
Perspectivas de longo prazo para o setor
O setor de transporte rodoviário de cargas está em um ponto de virada. A dependência do diesel torna o mercado vulnerável, mas também cria oportunidades de inovação. A médio prazo, o avanço de combustíveis alternativos, aliado a políticas públicas de incentivo, pode reduzir o peso do diesel nos custos logísticos.
Ao mesmo tempo, empresas que adotarem tecnologias de gestão mais eficientes estarão mais preparadas para lidar com as oscilações inevitáveis do mercado. A digitalização, a integração de dados e a automação de processos serão diferenciais importantes para manter competitividade, independentemente do preço dos combustíveis.
Conclusão
O preço do combustível exerce influência direta e constante sobre os fretes rodoviários, moldando tanto a estratégia das transportadoras quanto os custos para embarcadores e consumidores finais. Em um cenário de alta, cada reajuste no litro impacta não apenas no bolso das empresas de transporte, mas também na economia em cadeia, já que produtos de todos os setores dependem da malha rodoviária para chegar ao destino. Dessa forma, transportadoras precisam adotar soluções que minimizem os efeitos desses aumentos, como planejamento de rotas, uso de tecnologias de monitoramento e manutenção preventiva da frota para reduzir consumo.
Ao mesmo tempo, é essencial que embarcadores e clientes compreendam essa dinâmica, reconhecendo que o valor do frete não é fixo e acompanha as oscilações do mercado de combustíveis. Transparência na negociação, adoção de cláusulas de reajuste e incentivo a alternativas sustentáveis podem ajudar a equilibrar custos e manter a competitividade. Em um país onde mais de 60% da carga circula pelas estradas, acompanhar a variação do combustível e suas consequências é mais do que uma questão financeira: é um fator estratégico para a sobrevivência e crescimento de toda a cadeia logística.